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No folhear da cartilha de um dia.

(poema de minha mocidade. escrito na sala de aula em 1979)




Uma nova lição fez-me divagar.
Meu sentimento é o semblante da moldura,
mas nem a isto o comparo.
Trago na mente as marcas da verdasca
como respostas exteriores
pra da choldra me separar
no folhear da cartilha de um dia...

"...Ah! isto é que é vida!
É meu cepticismo de certezas afastadas!"

"Não deixe ó Deus,
não deixe
o hedonismo as minhas costas bater,
mesmo que a voz cenestésica me fale
e me faça cultor das visões opostas
à procura do mambembe,
da sonhada alegria
que por ela todo dia
desconheço-me
e não sou ninguém,
se é que ninguém
alguém pode ser."

"A desfaçatez supera a verdade
destas frases anti-tergiversas
porque descreio que o tal 'gelo'
(a frivolidade dos sentimentos)
seja natural,
normal, simples
tal um cineral no chão
sendo misturado por aí
face as rajadas de vento,
ou talvez,
à boca-pequena
até tornar-se voz global."

Maldito dom que não me liberto!
Maldito suspense duma lição
que leio, releio, não aprendo
porque hoje plácido
sou a liberdade
sem ser o outro,
apenas sendo teórico,
prático, às vezes pratico
ato maldito
e
mal dito
creio no ser humano
ser humano
no folhear da cartilha de um dia.

No mais
quero viver, ser feliz
sem perder meus princípios intrínsecos
que da cartilha não decoro
não descrevo, mas entendo


(1980)

mambembe - lugarejo afastado e sem recursos nem conforto
cineral - montão de cinzas






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