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quando por um momento






quando
por um momento
trilhares nossos passos andados
e sentires minha ausência
no teu colo quente
e meus braços a envolvê-la,
enfim saberás do  meu vazio 
saberás dos espaços
entre estrelas a apagarem-se,
saberás  do cão  solitário
a ladrar sem destino pelas madrugadas frias;
saberás da solidão aflitiva
de quem por ti reclama,
de quem mantém a chama lucilante
dum regresso improvável,
saberás dos amores dos pescadores
dos estivadores suados  e cansados no cais
por tantos portos que percorreram
e continuam apenas se deliciando
com a visão do imenso oceano,
saberás o quão dolorido é sentir-me vadio
sem ser vadio de índole

e se pegares as antigas fotos
já não verás mais nossos sorrisos
nossos amores de improvisos,
já não verás aquele nosso filme
nossas estadias a deus dará
à baila da paixão vívida e  ilusória;
talvez traias teus desejos atuais
nossos idos detalhes vivenciais
no campo
em  casa
à beira-mar
naqueles telefonemas inoportunos
dum moleque nas nuvens
dum moleque saído do ostracismo
rumo ao futuro sem planejamento
do amor em construção


quando
por um momento
deitar-me em teu colo ainda quero
espero
numa espera vã
que surjas do nada
como uma fada
capaz de transformar sonho em realidade
perdido nesta cidade fria
de gente apressada
de amores passageiros;
gente cega a meu dilema
que beira a ironia
neste viver enganoso sem esquema
tão descartável
como um romance que se lê
e fica esquecido na estante

quando
por um momento
lembrares de mim
lembrarás de nosso tudo quase nada
e eu
de meu nada que me fez em tudo
lembrar-me de ti
num voo  solitário
...


****

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