poema dum andarilho com um binóculo na mão
olhou
focou
mais à frente tudo embaçado
apertou o passo
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poema duma música cafona
foi tempo
já não era mais
tentou requebrar
olhou–se no espelho
viu um corpo atravessando o ritmo
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poema da abelha desgarrada
pousou num girassol amarelo
recolheu as asas e se atirou
Na língua dum sapo de plantão
No último ato de existência o ferroou
tem muita gente que morre abelha
tem muita gente viva com dor
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poema desproporcional em relação à magia da vida
escrevo o que não vivi
vivo o que não escrevo
escrevo o que não vivi
vivo o que não escrevo
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poema da saudade do cadillac verde que passava
nunca tive um
foi um sonho que passou em minha vida
da mesma forma que hoje quero um Ford 2012
os carros passam., a vida voa...
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poema para um mandacaru apodrecido
não morreu de sede nem de fome
meteram-no o machado
não tem valor mesmo!
coisinha banal.
parece manchete de jornaleco popular!
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poema do enxadrista no xadrez
cobertura de alto padrão
quatro vagas na garagem
ficou amigo do serviçal
esqueceu-se que era do alto escalão
um trocado a menos
foi dedurado sem perdão
uma vacilada
uma desconcentração
se perde o jogo
descamba
vem à tona a embromação
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vem à tona a embromação
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