Foste, e ainda és
o cantar da cotovia ao longe,
o manto estrelado
que do mundo me esconde.
Foste, e ainda és
a virgem do inverno cruel
a aquecer-me em teu corpo frágil
ofertando-me o teu mel.
Foste, e ainda és
minha cantiga, meu acalanto,
a mão amiga do meu pranto.
És
o raiar apagando a madrugada,
minha musa, meu conto de fada.
És
a estrada florida do sucesso
do amor que se faz no gesto
de me achares num regresso.
És
o barco ao léu do vento,
na lida diária meu porto seguro
quando o mar está em escarcéu.
Foste, e ainda és
os estirantes de um revés,
chão tátil dos meus pés.
És
meu colírio ao dissabor
a clarear meus olhos turvos
com seu terno humor.
És
meu sonho de romance,
meu reviver num nuance.
Foste, e ainda és
a senhora de meu pomar,
a dona do meu lar.
Foste, e ainda és
a bela da masmorra
agitando o lenço branco,
eis que te salvo nem que morra
só pra não ver o teu pranto.
És
a alvorada, uma sinfonia
a me acordares todo dia.
És
meu começo, meio e fim,
és minha doce amada,
a bela que rego no jardim,
a flor, minha preferida,
és minha margarida
és meu sopro de vida.
És
bênção que o coração palpita
quando estás com laço de fita,
és a menina, vestido de chita
sou teu curumim
és minha Rita.
Foste, e ainda és
a loucura que me permite
ser-lhe tudo, um pouco mais
que tua alma desde agora fite.
És
meu elixir à vida passando,
sabendo que estás
como sempre,
no portão me esperando.
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