Dedo D'esperança
Na trilha que eu ia, achei um para-brisa empoeirado.
Para deixar a marca de que eu ali havia passado,
escrevi, com o dedo, uns versinhos que na hora
me saíram:
"vai na estrada o solitário
tão manso falto de amor,
escreve no pó seu fadário
em noites de lua e frescor,
e nem o dia é-lhe o açoite
se já não sente sua dor."
Desenhei dois corações interseccionados. Dentro
deles, no da esquerda: 'EU'. No da direita: 'Você?...'
...
E, voltando contente, vi que a chuva apagara o que eu
escrevera.
Uma retirante -- morena, de pele ressecada pelo sol,
com uma trouxinha de roupa -- ali parou pra descansar.
E me acompanhou.
Passados alguns meses, voltei pela mesma trilha.
E, notando o para-brisa empoeirado, li os seguintes
versos, pois meu grande amor não sabia ler:
"chuva serôdia abaixa o pó
lava lágrima do caboclo só,
quem será que te atendeu
se por amor em ti creu
esquecido nesse cafundó?"
Assinado: Dedo D'esperança.
***