com tanta água
água me falta
há uma mina distante
que se morre de sede
que se morre pela sede
de nela se chegar
há o espaço/tempo
duma liberdade inalcançável
um desejo que se evapora
se sei que lá
há uma mina que se morre de sede
pra nela se chegar
onde transborda a água que me falta
tal minha juventude
que vi escoar
sem nunca saciar-me
do élan que me leva
...
eu queria ver a morte e retornar
eu queria ver
as águas da mina distante
quase no meu epílogo
ainda tão sedento pela vida
***
o cubículo o qual me tranco
vem do desprazer dum mundo errado
vem da ilusão dos hipócritas
vem dos sorrisos virtuais
a vida tem que ser vivida
aos trancos & barrancos
(não há fuga aos risos e prantos)
"um homem de valor
calmamente
quando fecha a porta
e tranca-se em si mesmo
olha ao redor
analisa
a fim de certificar-se que tudo está em paz
no seu devido lugar
mas há aquele que bate a porta
cega-se
debate-se
quando os dois se cruzam
o primeiro está de olhar altivo
o segundo de baixa cerviz
como quem diz:
'por que não sou o outro?'"
o cubículo existencial são duas espadas
uma, do bem, é o cordeiro entre lobos
a outra, do mal, é o lobo entre cordeiros
talvez o fim seja uma poça de sangue
apenas uma poça de sangue
não importa de quem seja
na singularidade do que se deseja
do que se cumpre sem se desejar
...
***
às vezes peco
às vezes não
às vezes creio em deus
às vezes descreio
e desconfio de mim mesmo
deus me olha como uma formiguinha desatenta
pra lá e pra cá num micromundo
talvez por isso
apesar de minha minúscula bondade
me guie com seu indicador
talvez deus seja o sol e a lua
que vejo que estão no céu
talvez eu só me dê conta deles
quando não os vejo
mas seguro de que lá estão
talvez Ele sinta falta
quando a formiguinha encerrar seu ciclo
...
acho que se deus não se importasse comigo
só teria criado seres inanimados
é
mas aí Ele veria em espelho
e se fartaria de monologar eternamente
meu deus
está na sensibilidade
na fraqueza
face a face com minha pequenez
***
***