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moleque.

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ziriguidum-dum-dum

moleque é bicho doido
não tem noção do perigo
mergulha lá do barranco
no poço do rio enchido

moleque criado na roça
faz carrinho de tábua e rolemã
com moleque não tem quem possa
não corre do terrível leviatã

ziriguidum-dum-dum

moleque doido casca grossa
diferente do da cidade
nem janta e às vezes almoça
com o sabiá, sua majestade

moleque quer outro brinquedo
largar os carrinhos de carretel
pelos novos pelos que lhe dão medo
de pegar a cobra no saquitel

ziriguidum-dum...dum

moleque bicho doido
é cavalo indomável
montaria não aceita
mas seria mais afável
se galopando lhe fugisse
a estrada estreita

moleque é bicho doido
como foi Tião Macalé
perna fina campo de jogo
quer ser artista como Pelé

ziriguidum-dum-dum

moleque dos confins é
bicho doido que nem moleque
pinta brava pinta o sete
do omelete faz filé
travessura o remete
criar balangandã
amuleto de arame
plano de roubar maçã

moleque pede a São Tomé
sem saber que santo é
mais que quentão de São João,
moleque bicho pinta brava
pinta bicho bravo no coração
brigando entre as campinas
pra em paz nadar no ribeirão

ziriguidum-dum-dum

moleque da cidade
é bicho de estimação
ah, se fosse esperto
saber ser moleque no sertão

pobre moleque pobre
quer na cidade ser nobre
vira bicho doido arredio
se da terra não ver o cio

moleque prego que entorta
sino que não retine
sangue sem aorta
pensar que não define
até que a idade abra a porta...

ziriguidumdumduum!!

moleque prego bicho pinta
brava tal chuva sem véu,
moleque é bicho doido
se enlameia pinta o céu
da boca desbocada
xingo de clamor
de seu eu ao léu
vira bolinha de papel

moleque é bicho doido
marimbondo ferrão na pele
mandrová que se repele
alívio de queimadura
com fumo e urina
e que se lava
com água fria da mina

zirigui-dum-dum-dum!

ah, se moleque da cidade
que tá sentado na latrina
sentisse no ar o aroma
sem ter que ir a esquina
comprar perfumes falsos
se é alérgico ao ar
que não explica seu diploma

moleque é bicho doido
moleque é pinta brava
se das cinzas fez-se vida
da vida cinzas não se lhe restava

zirigui...dum...dum...dum...





(Rehgge, 1987)


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