Foi ali, na ribeira do Camuri
Que um lembrar me traz mágoa,
Foi ali que nóis armava arapuca
Pra pegá os frango d'água.
Foi ali, na lagoa impestiada
De cascudo e lambari
Que nóis batia peneirão
Pegava rã com a mão,
Pescava com minhoca e siriri,
Foi ali, na ribeira do Camuri.
Foi ali, que antes de ser moço
Nóis punha o estilingue no pescoço
E pedregulhos no borná,
A gente encarava a mata virgem
Temerosos do que é que há.
Foi ali, na ribeira do Camuri
Que nóis jogava bola,
Colhia manga, goiaba, maria-preta, juá
Pitanga e carambola
Antes e depois da escola.
Foi ali, na ribeira do Camuri
Que nóis via o burro guiando a pipa
E nossos pais batendo o barro,
O tijolo sendo enfornado,
A lenha virando cinza.
Foi ali, na ribeira do Camuri
Que depois da reza dominical
A gente ia bandolá,
A gente ia bandolá,
Lenhá no calipal.
Foi ali, na ribeira do Camuri
Que nóis montava nos cavalo
E subia na montanha à tardinha,
Lá longe a gente via o brilho da cidade...
"Ilusão de vida,
Exílio de felicidade."
Foi ali, na ribeira do Camuri
Que a gente gostava das meninas
E brincava de passa-anel
Ao som do sabiá, tizil e bem-te-vi.
Foi ali, na ribeira do Camuri
Que a gente cresceu.
Foi ali,
Que a gente preta
Do sol de 40' tomava banho
Sem a febre daqui.
Foi ali, na ribeira do Camuri
Que nóis vimos a primeira fábrica
Matando as lagoas, o rio
Os cascudo e os lambari.
Hoje só canto:
"Camuri, Camuri, que saudades de você
Pedaço de chão, ribeira do quase nada
Um lembrar que me traz mágoa
Minha lágrima é tão pura
Quanto foi a tua água."
(1998)
Nenhum comentário:
Postar um comentário