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SERIAL




num ato solitário
abraço à solidão e escrevo
egoísta -- indivisível -- otário
e à real nada devo

meu poemar é sobre o olho
às vezes com ritmo
às vezes com tom

sou o corpo habitante do caramujo
alheio ao externo som

e tremo com o lápis na mão

no caramujo há um camaleão
a gerar sem paternidade
faces em ficção

esporádicas dão as caras
e em duo então
torno-me desinteressante
o outro torna-se importante

à toa
vivo a disposição da poesia
nos deslimites das palavras oxigenadas
neste dom inútil
que em mim se cria

quem me olha nem vê
que sou serial killer
de mim mesmo em dublê
de personagens
a me ditarem pontuais
enredos de protagonistas estranhos

uns têm vida curta
outros duram uns textos mais


sou mesmo um camaleão

meus eus camuflados
à sepultura comigo irão
sem que viv'alma tenha notado
libertos de minha auto-prisão

"o camaleão fora do caramujo
é animal de cativeiro

a solidão é companheira do poeta
é sua palavra
seu universo, o verso"



***