num ato solitário
abraço à solidão e escrevo
egoísta -- indivisível -- otário
e à real nada devo
meu poemar é sobre o olho
às vezes com ritmo
às vezes com tom
sou o corpo habitante do caramujo
alheio ao externo som
e tremo com o lápis na mão
no caramujo há um camaleão
a gerar sem paternidade
faces em ficção
esporádicas dão as caras
e em duo então
torno-me desinteressante
o outro torna-se importante
à toa
vivo a disposição da poesia
nos deslimites das palavras oxigenadas
neste dom inútil
que em mim se cria
quem me olha nem vê
que sou serial killer
de mim mesmo em dublê
de personagens
a me ditarem pontuais
enredos de protagonistas estranhos
uns têm vida curta
outros duram uns textos mais
sou mesmo um camaleão
meus eus camuflados
à sepultura comigo irão
sem que viv'alma tenha notado
libertos de minha auto-prisão
"o camaleão fora do caramujo
é animal de cativeiro
a solidão é companheira do poeta
é sua palavra
seu universo, o verso"
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