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Recurso Mnemônico



Pela estrada da linha do trem, distraído e curtindo a paisagem,
vou compondo poemas na memória. Ah, cadê meu caderno?
Fico embasbacado...  o que penso logo descarto.

Deixo, às vezes, recadinhos pra mim mesmo no meio dos meus
livros ou num lugar aonde eu possa facilmente  achá-los:
hum... aquela busca frenética, banal, de revirar as gavetas e
pôr a casa de pernas pro ar...

Sou muito desorganizado, aéreo e o escambau... pra não dizer
palavrão! Até de vários amores passados guardo fotos 3x4,
cartões postais e cartinhas, aquelas com ‘te amo, te amo’ mil
vezes  escritos  com marcas de lábios impressos a batom, pink?
Quando minha lista de compras ultrapassa 5 itens, não penso
duas vezes: anoto.

Vejam que me sentei aqui pra escrever um poema sobre
os recursos memoriais e, de repente, me fugiu como
os textos onomásticos que fiquei de fazer aos malucos, manos 
meus, dos tempos do Led, Deep Purple, Uriah Heep,
Stones...o primeiro Festival de Águas Claras em Bauru, SP...

Descreio que estou perdendo os neurônios e hormônios,
já que desde menino procuro fazer um poema e/ou texto
em que eu possa me olhar no espelho, fazer uma pose,
numa espécie de vanglória (vã glória?) solitária, manja?

Li numa revista especializada que esquecer-se
de coisas banais não é problema, é fato normal.
O cara que escreveu o artigo, com certeza, não é poeta.
Porque ele nem imagina a turbulência por que passa
a cabeça de um intelectual genético.

Gostaria que houvesse um recurso que me fizesse sorrir
das coisas mais idiotas porque, atualmente, só
o meu cachorro desconjuntado, quando balança o rabo
e põe os dentes pra fora, é capaz de tal proeza.

Etc e etc. Esqueci do resto. Por que não amarrei um barbante
no dedão? Já sei! Vou comprar um minigravador...
mas será que vou sempre me lembrar de carregá-lo...?