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não quero ir a lugar nenhum!



não quero ir a lugar nenhum
não me telefonem
não toquem a campainha
não quero ver ninguém
desliguei tudo!

meu ostracismo
é um planador em espiral

meu silêncio
é  o reencontro comigo mesmo
(uma releitura egocêntrica e profunda
em contraponto a toda inércia
causada pelo descaso de 364 dias
os quais enganei-me e forjei
suspiros maquiáveis
sem eira nem beira)

não quero ir a lugar nenhum!

...de festas, comemorações & orações
...de choros, risos & congratulações
...de emoções resultantes no filme do antes, etc
...de projeções & subjetivas introspecções, enfim...

NÃO estou PESSIMISTA
NEM alienado aos fatos
há muita gente que me gosta de bom grado...
um ponto final é meu recado!


...mas o espetáculo pirotécnico
causa-me enfado e me pergunto:
-- será que o escuro deste quarto,
pigmentado  pelos flashes nas paredes,
traduz o reflexo  dos estalos de minha mente
em que prometo a mim mesmo um giro de 360 graus,
sabedor que, passada a euforia, a minha normalidade
será a de páginas iguais, ou seja, à partir daí verei somente
fotocópias da mesmice enganosa dentro do perímetro
inescapável em que fui educado com lições racionais...?

não quero ir a lugar nenhum!!!

...mas gostaria de estar ouvindo o som da madrugada
dos bichos solífugos que,  numa sinfonia desconjuntada
sob a sensibilidade do orvalho, ficassem comigo 
aguardando o primeiro crepúsculo do dia Primeiro
de Janeiro de 2014, quiçá meu marco existencial
e de ruptura a dias bons e maus que deixei pra trás.


não! não quero ir a lugar nenhum!!
preciso pensar!
urgente é minha sede de viver!

hoje, vindo pra casa,
notei famílias enlutadas 
velando seus amados 
como se fossem insetos num facho de luz...

nem alegria nem tristeza
sinto-me no meio de ambas

por isso

não quero ir a lugar nenhum
que me revele
insistentemente
o que a vida me dá como prato do dia


***














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