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Garota e/ou: 'olá'. aí vai meu resumo.

Garota e/ou: 'olá'. Aí vai meu resumo.



Você me perguntou quem sou. Digo-lhe que sou aquilo que
escrevo. Quando não o sou, a empatia que há em mim faz
com que eu seja mais os outros do que eu.  Possuo o dom,
bem mais forte que meus próprios versos, em solidarizar-me
e sugar o eu alheio, apenas estando ao lado do próprio.
Sou capaz de sentir suas angústias e desejos. Não consigo,
ainda, explicar este tipo de premonição. Mas sem essa de
ser espírita, ok, e sim empírico.


Minha vida é um livro aberto, talvez por isso eu tenha 3 blogues
que trazem no subtítulo o nome de 'Fragmentos do Calhamaço.'
Talvez por isso eu seja virginiano, perfeccionista, mas longe de
ser aquele cara chato, pois sou  meu  maior crítico, minucioso
tão-somente daquilo que escrevo. Fora isto, sou um relaxado
incurável. Um cara que sabe perdoar, mas que se revolta com
a desigualdade, maniqueísmo, com a síndrome de Maquiavel
que paira em todos os meios.


Desde criança fui judiado pela vida. Passei fome, frio,  e duas
vezes não morri porque tinha um fardo a carregar. Agora, com
50 anos, entendo. Comecei a trabalhar, garotinho, vendendo
verdura. Eu acordava às 5 da manhã e ia cortar chicória e
alface, sem café, sem lanche, pra poder comprar um docinho,
sei lá, que os meninos menos carentes saboreavam (desculpe,
se choro no momento).
Aos 12 anos meu pai me levou trabalhar na tipografia aonde
trabalhava e tornei-me gráfico (tipógrafo). Fiz o primário
no SESI de Bauru, escola que eu ia feliz no aguardo da
hora do recreio só pra comer a sopa de fubá com couve.
Fiz o ginásio em Jundiaí (como eu detestava este ginásio!),
e já como profissional, trabalhando com meu pai,  nunca
soube o que era receber um pagamento, pois o acerto
ficava entre meu pai e o empregador. Contudo, eu era feliz.
Podia comprar um tênis, uma calça jeans pra frequentar
os parques de diversões, circos e quermesses. Pô!
nesse tempo eu ainda corria atrás de balão e sonhava ter
uma bicicleta. Lembro-me da Copa de 70! Lembro-me,
na sala de aula da 'Redação à vista de uma gravura'
(bons tempos!). Ah, em 72, morei com um tio meu,
em Marília. Ele era o dono do 'Jornal do Comércio',
que hoje está extinto. Taí! Pense num moleque de rua,
pé rachado, que de repente passa a viver na burguesia
(essa minha passagem daria um romance).


Comecei a escrever aos 16 anos após uma desistência e
consequente repetência no primeiro ano de Colégio
em escola pública. Eu queria fazer Publicidade.
Entrei no curso técnico, no Colégio Rosa, em Jundiaí.
Logo no primeiro ano fiquei amigo do professor de
Redação que, ao ler uns textinhos meus, escritos na sala
de aula,  soltou a seguinte frase: "Você não precisa de mim,
estude sozinho." Comecei a estudar gramática trocando
informações e poemas com ele. Fiquei desobrigado de
assistir aulas e fazer as sabatinas. Achei ruim, hein?
Foi aí que comecei a escrever. De vez em quando,
ainda releio os textos daquela época. E rio. De vez em
quando, quando me dá na telha, publico em RSs..
Muitos destes textos se perderam com meu desleixo
e desvalorização o qual eu os tratava. Fazer o quê?


Aos 19, eu só queria saber de namorar. Larguei os
estudos, minha namorada engravidou. Saí da casa
do meu pai, fui morar com ela. Eu estava apaixonado,
um sentimento novo que eu não sabia como lidar.
Nessa época eu era roqueiro, cabeludo, anarquista
e, embora casado, queria ter a liberdade de solteiro.
Entre 21/23 anos viajei para vários cantos do Brasil.
Curti Sampa, o Primeiro Festival de Águas Claras
em Bauru, Litoral Norte e seus saraus movidos a
álcool, maconha e chás de cogumelo e lírio.
Mas sempre, no meio da malucada, fiquei na minha,
careta de tudo. Lembre-se que nessa época -- de Lennon
e Rolling Stones, de Led e Deep Purple, e resquícios
de Woodstock -- nós, os jovens, achávamos que
íamos consertar o mundo, enquanto cá, no BR,
ainda os generais tinham o poder. Sempre que
eu podia ia pra São Paulo, pro bairro do Bixiga,
pro Teatro de Cultura Artística no bairro Paraíso,
curtir um pouco de arte. O que mais me recordo foi o do
Queen, no Morumbi. Ah, eu adorava ir ver a
Sinfônica, regida por Eleazar de Carvalho!


Eu escrevi muito nessa época. Estudei e li muito.
Conheci muitos poetas e intelectuais marginais.
Comecei entender a roda-viva. Comecei a ouvir
Chico Buarque, Walter Franco, Taiguara,
Renato Teixeira, Zé Ramalho, outros que agora não
recordo e muita, muita música folclórica e raiz.
Curti tudo ou quase tudo referente a arte  de Norte
a Sul de meu querido país (o país do futuro).
Fiquei 15 anos sem escrever nada. Retomei a escrita
há 19 anos e percebi que inda não tinha escrito nada
substancial.


Hoje o que mais gosto é de pescar (herança do meu pai).
Não tenho ilusão quanto a vir ser um grande escritor.
O que importa, pra mim, é deixar minhas mensagens.
Já fui assediado por grandes editoras para lançar um
livro de crônicas e contos. Tô nem aí, mina.  Sou um
camaleão que se ajusta ao habitat. Sou eclético.
Escrevo o que pinta na minha cabeça. Não me atenho
a tapinhas nas costas e rapapés. Sou um cara pobre,
e quem me conhece não entende minha escolha.
Dizem que sou muito inteligente. Concordo. Fiz
minha escolha. Dizem também: "Como pode uma
cara como você viver assim?". Penso então:
"Já vi mortes à minha frente. Já vi humilhação.
Já vi fome, frio, lamentações, injustiça. O que se leva
desta porra de vida? Merda nenhuma, respondo
a mim mesmo."


Bem, vou terminando senão vira romance. Creia, porém,
que sou uma das pessoas mais humildes que conheço.
Sou um cara que se dói pelos necessitados, que ri com os
ricos. Sou um cara incapaz de não dividir meu pão.
Santo? Longe disso. Tenho meus surtos de indignação
que reproduzo em textos. Acho que estou aprendendo a ser
gente, aprendendo a viver.


Eis um resumo, um diagnóstico de minha passagem.

Um abraço, seja lá você quem for. Nunca digo
'fique ou vá com Deus', pois Ele está em todo lugar.
Ele é a energia que captamos ou não.


PS: fiquei com preguiça de revisar o texto.




***Rehgge.