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NOS JARDINS DO SENHOR






E eu corria, sem sentir as plantas dos pés tocarem o chão.
Olhei à direita: vi a placa de madeira com letras em alto
relevo: "Jardim do Éden".


Todos ali eram coxos. Somente eu permanecia em sentido
vertical, ereto. Mudas de árvores frutíferas, em segundos,
brotavam em todo perímetro. Cresciam e murchavam.
E eu corria. Sentia os pingos de suor correrem em minha
testa e arderem nos meus olhos.


Diminui os passos exausto, sedento e esfomeado.
À frente, um homem lentamente enrolava a corda no sarilho.
Era água fresca. Tamanha transparência jamais eu tinha visto.
Pendurada no arbusto, uma fieira de peixes já temperados
com sal. Havia também uma trave sobre o carvão em brasa.


-- Queres água, meu filho? -- ele ofereceu-me.
-- Sim senhor, estou sedento -- respondi.
-- Queres peixe, meu filho?
-- Sim senhor, estou faminto.
-- Veja a sombra daquela árvore frondosa. Queres descansar
sob ela depois de satisfazer-se?
-- Claro, senhor, será uma dádiva.
-- Pois bem... coma e beba até fartar-se.
-- Nunca poderei retribui-lo, senhor! Vamos nos ajoelhar.
Sinto uma energia enorme dentro de mim. Conheces o
Salmo 91?


E comecei: "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo..."


Vi um raio estrondoso atingir o bom homem. No lugar onde ele
estava, uma cratera abissal abriu-se e pude olhar através dela.


Às 7 horas, noutra dimensão, vi e ouvi meu celular despertar.
Mas não abri os olhos. O anjo da morte estava perplexo ao
lado do meu corpo. Olhei novamente: às minhas costas vi
um pomar verdejante em que as frutas pareciam bolas
multi coloridas, metálicas, de árvores de natal.


Senti-me leve e colhi uma maçã. Uma voz falou ao meu ouvido:
"Já tens o conhecimento do bem e do mal. Coma e durma em
espírito. Quando despertares já terei resgatado tua companheira
para um novo recomeço".


***