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A Calcinha de Renda

Poema Dum Amor Não Catalogado - 3


A CALCINHA DE RENDA

Ali, naquela biblioteca
Nem dei-me conta de minha embriaguês
Você subiu na escadinha
Pra pegar um título
Que pedi com desfaçatez,

Você de saia curta
Vi a visão que sou freguês
Tua calcinha branca de renda...
Esqueci-me de minha recente viuvez.

Ali, por ti, nasceu meu amor
Estático
Na cadeira de rodas estática
Fiquei estático
Num afã supersônico
Quis te dar uma flor de plástico
Uma rosa rosa, acho
Porque sou daltônico.

Você, tão gentil
Trouxe-me o livro de alcova
Duma tal dama primaveril...
Já não me importava lê-lo
E pra demonstrar meu zelo
O motorzinho da cadeira afoguei...
Queria mais tempo em tua presença
Pois, apesar de nossa diferença
Todo amor do mundo
Num gesto te ofertei...

A marcha engatei, acelerei
Nas batidas do coração,
Saí amalucado pela calçada
Falhou o freio
Na ânsia
Fui atropelado por uma ambulância.

E hoje, aqui todo quebrado
Vens me visitar,
Sobe na maca a ladear
Virando lentamente a manivela,
Tenho do mundo a visão mais bela
Quando abres o livro
Pra que eu possa estudar, hum!


***