Translate

Um breve reencontro com o Chico Estradeiro

Um breve reencontro com o Chico Estradeiro.



Dizem que poeta é narcisista, ciumento. Dizem.
Mas o Chico, amigo meu, desconstrói esse pensamento.
O cara é xucro, berebento, tem vitiligo nas mãos,
frieira entre os dedos e olho-de-peixe embaixo,
ou, sei lá, dos pés.



-- Ô Chico!, faz um poema no ato!, pedi.



"A POESIA É FALSA
O POETA TRAPAÇA
SE TIVER QUE MORRER
NEGA SUA RAÇA.



POESIA É COISA DE BOIOLA
SEI DE NADA E USO COURAÇA
NUNCA FUI NA ESCOLA
NÂO VEJO À VIDA PELA VIDRAÇA."



(E fez um desenho de pessoas observando o rosto
de outras atrás do vidro de uma janela.)

-- Chico, tu é mesmo sangue bom. Fala a real,
doa quem doer. Pô! cara, faz um livro!

Ele picou a folha de papel higiênico, fez uma bolinha
e jogou na enxurrada.



-- Chico! Cacete!
-- Então pega essa, mano, antes que eu fume um baseado
e vá a bordo de meu aeroplano.



"TAVA RESSECADO NA PRIVADA
NÃO SAIA NADA, COMECEI A SUAR
LEMBREI QUE ERA ALTA MADRUGADA
HÁ 3 EU NÃO CONSEGUIA CAGAR,



SE EU TIVESSE TOMADO O LAXANTE
QUE O ZÉ REMELA PRESCREVEU
NÃO ESTARIA COM ESSE SEMBLANTE
REZANDO POR UMA DESINTERIA, MEU."



(E fez um desenho duma pessoa, soltando
palavras chulas e disformes, sentada
no vaso sanitário, pela boca -- se bem que
fiquei na dúvida...)



...



Dizem que poeta é narcisista e ciumento. Dizem.
O Chico acha bonito 'o outro'.
Ele só tem ciúmes de seu alicate de corte, alicate
jacaré, que usa pra fazer pecinhas artesanais de uso
pessoal, tais brincos, pulseiras e outros balangandãs.

E também de sua caixa de lápis de cor que, de acordo
com seu humor, escreve seus antipoemas, como ele mesmo
diz -- fedidos.



A sua primeira quadrinha supra escreveu com lápis
branco. No desenho contornou a vidraça em cinza-fuligem.
A segunda, em marron, sombreado de verde musgo. No desenho,
em pitadas aerógrafas, parecia que um ventilador havia
soprado a tinta por todos os lados com as mesmas cores.



Muito realista o cara.

Nenhum comentário:

Postar um comentário