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SAUDOSA MÃE

(textos de minha mocidade, 1976, Rehgge)


SAUDOSA MÃE

Ali, naquela cidade, existe uma mulher
Que vem me visitar quando durmo
Esnobando simpatia de pessoa feliz.
Mas, quando ela aqui chegar,
Sei que mil visões irá me contar.
Então eu darei a ela o escuro
E ela  me dará a luz de seus olhos claros

Em pensamentos e outras miragens
Vejo seu sorriso e suas mãos:
A chave de minha liberdade
Forjada de tantas desventuras
E tantas juras, posto que ser mãe, penso,
É estar propenso a nunca desligar-se
Do cordão umbilical que, no corte,
Vira um ímã sentimental,
Uma atração por toda a existência.

Olho ao redor de minhas fronteiras,
Uma esperança redobra minhas forças
De um dia voltar pra casa.
Sei também que em seus sonhos
Me chama pra voltar,
E que novas canções tem pra me cantar,
Até mesmo a de sua chegada
À  eternidade tão próxima.

Ali, naquela cidade, existe uma mulher
Que deseja me livrar do sepulcro,
Que me faz renascer dos insucessos,
Que me põe pra dormir esgotado,
Que descarta minhas bobagens.
Que com seu corpo me aquece da friagem
Diante de tantos vis exemplos
Daqueles que nem mesmo sonham
Um quê familiar do outro lado,
O lado fraterno de todo revoltado
Que não ousou dizer-lhe o quanto a amava

Ali, onde nasci, no outro lado,
Existe uma pacata mulher
Que minha foto acaricia entristecida.
Na penumbra ela novamente fecha a porta.
Mais uma vez eu não voltei,
Mais uma vez outra noite insone terá.

Ali, naquela cidade, existe uma mulher
Que ao menor vestígio diz que tudo é saudade.
E, aqui onde estou, nesta casa,
Num cantinho de desaconchego,
Ainda trago tantas recordações.
Choro então.
Porque quando eu morrer,
Quem se lembrará dela
E quem se lembrará de mim?


"Ora, mãe, do teu leite fiz-me homem."


***

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