A Rita tirou sua foto de minha carteira.
A Rita levou seus trecos e o espelho da penteadeira
em que ficava horas e horas empetecando-se
pra irmos à gafieira bater coxa e ficarmos de pileque.
(A desgraçada sabia economizar e guardava uns trocos
dentro da calcinha só pra me instigar; ah! Rita...)
A Rita levou seu diplominha do Grupo Escolar
e nosso álbum de recordações da beira mar.
De raiva ela deu nó cego nas minhas cuecas e
ateou fogo nas minhas fezinhas do jogo do bicho!
Que mulher!
A Rita levou nosso cachorro, nosso celular
e os travesseiros que, quando encardiam com o nosso
suor, ela punha pra arar na laje onde as "cachorras"
pegam um bronze e os moleques soltam pipas.
Levou nossos lençóis da cama confidencial e o jornal
do dia em que saímos no braço com uns burgueses folgados,
( A Rita comprava minhas tretas).
Ora, vejam vocês, até o aparelho de MP3...
aquele com 2 fones que usávamos no escuro do quarto:
um no ouvido dela, outro no meu... aah, lá se foram nossas
cancões românticas de estímulos...
Olha, a Rita não é mulher de aparência.
A Rita é madrugadeira, festeira, boa cozinheira...
Mas certa vez me fez uma advertência, assim:
"Tu de amor é tão falto
Se me der na telha
Me mando por esse asfalto
Sem rumo
De coração vazio
E me enfio em um barraco
Lá no cu do Rio."
A Rita se foi.
Levou tudo, menos meu pensamento.
Até fiz um juramento:
'Se ela voltar, vou deixar de ser ciumento...
comprar uns móveis novos e umas roupas de madame
lá no brechó do Faustino... nem que for fiado!
(Tô té imaginando eu com uma calça boca-de-sino branca
e um pisante de pé-de-valsa... Sonhos...)
Tudo que ela me roubou lhe ofertarei em dobro,
inclusive o amor que, na rotina, nunca demonstrei.
PS: "Ô Rita, volta! Tem uns manos meus que tiram
o maior sarro da minha cara quando vou ao 'Centro de
Apoio Psicológico a Casais' -- sozinho."
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