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Tudo por dinheiro.



Um casal discreto. Um belo casal. Muito reservado.
Ele, professor de Teologia duma faculdade de
segunda categoria, privada, com diploma pouco
reconhecido.
Ela, advogada de causas cíveis. Do tipo que tem
o texto do processo pronto no 'world', e que muda
apenas os dados de cada cliente. Sei lá... divórcio,
pensão alimentícia... claro, só os convencionais.

Moravam no 'Centro Residencial Recanto dos Anjos".
Nome, aliás, sugestivo. Ap apertado, básico, desses
financiados pelo Estado, os quais diferenciam-se uns
dos outros pela cor e número ou, letras nos frontispícios
das alas.

Pararam o Fusca branco no centro de São Paulo. Na
avenida Paulista. Tiraram as roupas dentro do carro.
Deram as mãos e saíram caminhando nus. Primeiro,
pela calçada. Depois, pelo centro, entre as faixas
verticais da avenida.

Os carros, em buzinaço, freavam. Nas margens esquerda
e direita, na mão e contramão, todos pararam e estáticos
formaram um corredor humano para ver a cena. Lógico
que houve xingamentos do mais baixo nível. Normal.
Mas também, vejam, muitos aplausos.

Caminharam cem metros no meio do formigueiro até
depararem-se com a viatura da Polícia Civil (rondante).

Colocaram os dois no chiqueirinho até o DP mais
próximo. Foi dado o flagrante por atentado ao pudor.
Foi feita a autuação, o interrogatório. Sob fiança
foram dispensados.

Ganharam o prêmio do 'reality show'. Tornaram-se
celebridades na TV e na internet. Foram convidados
para os mais badalados eventos da alta sociedade.
Pousaram para revistas. Uma simples entrevista,
um bom cachê... e a conta mais azul do que nunca
o banco. Foram o foco da mídia alguns dias, não muitos.

Mudaram-se para um condomínio luxuoso.
Fundaram a igreja 'Matriz dos Afortunados',
e filiais.

O casal, nessa junção de 'fome com vontade de
comer', tornou realidade um comum anseio:
Ela, a advogada das causas impossíveis.
Ele colocaria sua teoria em prática.

"Quer saber:
Tem gente que faria coisa pior
por muito menos."


***



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