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àrvore da ilusão




minuto a minuto
saber
envelhecer
germinar
colher
novas ideias
recriar
alegre ou triste
sério
a série de dias
o final é plural
comum
esperado
o relógio permanece



***

Num átimo de esperança.




Tiraste-me a atroz expectativa de não saber - pela boca -
ficar em paz. Por que viver sob a túnica da tristeza, se é contigo
que posso descrevê-la?



Tiraste-me do imo a metáfora que mil sábios não entenderiam.
Por que viver encobrindo-me com palavras, se é contigo que posso
entendê-la?



Tiraste-me os descaminhos de saber-me inseguro e crer em mim
mesmo. Por que ser mais um nômade por aí, se contigo, seguro, qualquer
lugar é o meu acreditar de ver o futuro, o mundo qual uma estrada,
minhas pernas de pensar?



Tiraste-me toda podridão social, e minha pureza consumida se refaz.
Por que ver com os olhos dos outros, se com os meus vejo os outros com os teus?



Tiraste-me o epílogo desta prosa, que noutro momento, doutra forma
findarei. Por que não viver de recomeços, se há uma chance de eu fazer sozinho
tudo dar certo?



(1984)




Medo de frustrar-me




Peco pelo abraço
que não dou e traço
só, no leito,
um jeito
de fazer o que penso
e não faço.




***

medo de envelhecer.



A idade, a jovial,
é o elixir natural
do mundo porta-aberta...

é a vida do homem
tal um livro fechado...

e ele só liberta
e é feliz
quando traduzi-lo
é ainda lembrá-la



***
















...

a temporã




o pó cobre os corpos
cobre o verde desértico
da vegetação teimosa
da planície arenosa e das escarpas
e, ao sopé dos montes
pegadas de pés descalços
de mulheres voltando das fontes
aos seus lares
...
regresso com seus temores
e tristes olhares
sem as cantigas peculiares
de seus santos ajudadores

hoje não tem não
carne-seca nem água no feijão
hoje não sairão banhar-se todas
contemplando às estrelas
em um conto regional de morrerem
e um dia sê-las

hoje tem
a fome circundando os quintais
cantada pela desgraça do violeiro
que fala dos temporais
que fala do rio transbordando
mas nunca por ele navegou

'o pôr-do-sol é um quadro horizontal
maravilhoso demais e, ausente
faria secar a tristeza dessa gente'

aves nômades rumam para o mar
as daqui já foram nativas
...
e tantos animais de costelas salientes
tombam impotentes
e tantos animaisgente
tombam indo e vindo
sedentos da chuva chegar
...

e o barro dos açudes amarelos
e o barro ocre-marrom
e o barro ocre-marrom cobre
cobre de doença, mata a fome
perpassando as tripas da barriga
...
e só a água cristalina
guardada na retina
não faria essa gente ó Deus
ó Deus não faria
essa gente sentir-se tão pobre

o caminhão-pipa não chega
a espera é um alento
para os pais sentinelas
e suas crianças magrelas
que as mães esperam
alheias ao frescor do vento

um relâmpago
esperança
um sorriso fugaz de todos
de todos sentirem a chuva
a lama do pó
do pó na entranha
que molha o pó de lágrimas

***


(scsul, 1998)
















A FERROVIA DA ESTRADA DO SOL



o Sol dá vida
o Sol dá morte
o soldador solda,
solda o ferro da ferrovia
da Estrada do Sol

Sol da vida!
Sol da morte!

o trem vem e vai
é assim que tem que ser
ah! que ser vive a aquecer
os corpos na Estrada do Sol?...

-- é o sol da vida!
-- é o sol da morte!
-- é o sol da estrada!

o trem vem e vai
é o trilho - o estribilho
é o lema - o sistema
é a gente - o agente
indo e vindo - agindo
confundindo a mente

o Sol dá vida
o Sol dá morte
o soldado dá dor
o soldador solda
solda o ferro da ferrovia
da Estrada do Sol

mais um dia passou, passou
e passou...
o soldado não voltou
pois é!
lá vai outro em seu lugar
o trem vem e vai
e irá, depois virá e irá...

infinito bis
de não querer ver a morte
e só a vida
e só o lado que a faz feliz

ah! que ser vive a aquecer
os corpos na Estrada do Sol?...

é o sol da vida!
é o sol da morte!
é o sol da estrada!
é o calor humano gelando
se curva em curva
a cada jornada



(1998)


***

desencantos.



sonetos de minha juventude






basta que outro arco-íris se desfaça
pra eu entender o cinza-desencanto
de se passar pela vida vil  sonhando
pelo pão suado trabalhar sua massa

basta um estranho que me sorria
pra reflexivo eu ter tudo e o nada
vindo-me o desmotivo pela jornada
doutras faces que o sofrer amplia

basta a pobreza destes cães ilhados
medrosos da chuva chorarem vorazes
à mercê  do capitão serem  chutados?

basta sentir,  construir o  belo interior
se meu universo são relances fugazes
da guaia que comigo vai onde eu for?





(rehgge, 1981)