símbolo.
punhal na cintura
encarava o mundo
me dava exemplo
à fuga do poço fundo
ficava ali à porta
o velho templário
da casa amarela
com seu hinário
na entrada defronte
me fazia limpar o pé
olhava nada no horizonte
sorria à minha mãe
bebericando café.
de segunda à segunda
eu via o trilho de suas pegadas
suas botas enlameadas
o suor na velha camisa encharcada,
mas eu só percebia -
quando ordenhava a vaca leiteira -
o brilho reluzente do punhal
no cinto de sua calça rancheira
era assim a tarde inteira
no final o sinal da cruz
antes do cuscuz
revisando seus trecos
ao pé da mangabeira.
cuidava dos pássaros ariscos
jogava milho às galinhas
passava o rastelo nos ciscos
heranças que seriam minhas
cuspia a gosma nicotinada
do fétido cigarro de palha
cantarolava glória a deus
com os olhos no verdume
que hoje os meus embaralha
eis que vinha a lua prateada
surgir no fim da jornada
apontar seu sonho
encostar sua enxada
namorar minha mãe
comer, dormir, esperar
o galo cantar de madrugada
meu pai nunca usou o punhal
que eu via na sua cintura
o punhal era sua marca de guardião
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retorno à fantasia.
ah, se inda me vejo
na pureza duma criança
que fazia festança
com as doces jujubas
no bolso da calça de algodão
ah, esforço em vão
piruetas que dei
que não voltarão,
ah, piruetas da vida
piruetas do meu coração!
ah, sala de ancestrais
já não me verei jamais
brincar na estação
já não corro pelo gramado
à sombra dos pinheirais
ah, se inda me vejo
feliz à vida
ladra deste desejo
roubar-te um beijo
nestes temporais
te daria os doces carinhos
que tenho guardado
no peito sangrado
em desencantos tais
em troca de teu sorriso
voltar eu preciso
aprendi machucado
a te amar mais e mais.
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amores de infância!
ah, os amores de infância!
quanta errância
posso hoje notar nos meus passos!
mas se eu pudesse
se inda eu pudesse
correr à beira dos riachos
levaria flores aos maços
àquela que não esqueci
neste presente
a fazer-me regredir
relembrar
seus mínimos traços.
longínquo é o desejo
que não envelhece
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o recanto de meu ser.
ladeando a estrada turva
miro o norte de minha sorte
e sigo
e sigo desesperado
a um nicho virginal:
marca divisória existencial
ladeando a gruta da estrada
onde os morcegos têm morada
adentro ensimesmado
espero o átimo fatal
lá fora tem uma estrada turva
uma estrada racional
lá fora tem uma estrada turva
que me trouxe aqui
brilha o Sol lá fora
sobre a estrada turva
toda hora mas agora
encontrei a luz que perdi
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