quando eu era guri
e tudo me era brincadeira
ganhei dois carreteis
fiquei na maior felicidade
arrumei um pedacinho de madeira
entalhei com uma faca
em cada extremidade
duas metades de anéis
desenhei as janelinhas
muitas cabecinhas
a minha
uma bolinha com dois olhinhos
um pontinho ao centro
em U uma boquinha
de lá pra cá eu ficava
imitando o som do motor
do ônibus que me levava
conhecer outras plagas
sobre um enorme mapa do brasil
que meu pai me dera
em minha aurora de encantos mil
hoje, velho
vejo que o ônibus
com rodinhas de carretel
simboliza o tempo
do viver, meu papel
já conheci muitos lugares por aí
mas no meu peito inda aflora
aquele desejo infantil
quando me vejo só por aqui
hoje, no mapa
procuro o pontinho donde saí
visualizo minha longa trajetória
ingenuidade que perdi
com dois carreteis na memória
um pedacinho de madeira desenhado
apagado
às cabecinhas que esqueci.
***
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