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O QUE É SERÁ E SERÁ O QUE É



Monólogo de Chico Estradeiro

O QUE É SERÁ E SERÁ O QUE É



Quem quiser ler, ainda leia.
Quem quiser gostar, ainda goste.
Quem quiser odiar, ainda odeie.
Quem quiser criticar, ainda critique.
Quem quiser desdizer, ainda desdiga.
Quem quiser ser hipócrita, ainda seja.

Mas não me venha com blablablá.
Cuide do seu beabá.

Sou mesmo marginal, polêmico.
Palavras não enchem barriga.
Mas preciso de frases pra dizer
Que nenhum careta desdiga
Que sou louco, incoerente,
Que nado contra a corrente.

Quem quiser refletir, ainda reflita.
Pense em todos os loucos e me diga
Que você é normal e entende a vida.

Quem quiser escrever, ainda escreva.
Escreva um saco de palavras
Que no final não dizem nada.

Quem quiser resumir o que sou, ainda resuma.
- Sim, é louco - uns dirão.
- Não, é frustrado - outros também.

Sim, sou tudo e não sou nada.
Não sou perdedor nem vencedor - direi.
Meu objetivo é não ter objetivo.
Sou animal livre, sem destino.

Sou medíocre mesmo: 99%.
Sobra-me 1% de lucidez, acho.

Quem quiser me esquecer, ainda me esqueça.
Sou um número, apenas um,
Tão imbecil, tão imbecil
Que pode confundir a cabeça.

Vou morrer - você também.
E aí?
Que grande vida é a nossa...?

Quem já morreu...
virou uma notinha no obituário
dum jornal que sairá de circulação.

Quem tá vivo, ainda viva.

Mas, o que é mesmo a vida?...
senão o longo voo dum pássaro que
vai se depenando ao vento que
perde a força...?



Chico Estradeiro
(um maluco andarilho -- pseudônimo de Rehgge)



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