o passageiro solitário
curte o cenário
em caminhos prontos
se perece de confrontos
construções, máquinas, animais
homens irracionais
rua mista de vaivém
de todos, de ninguém
natureza morta
fuga sem porta em liberdade
capitalismo: uma cidade
o progresso remando...
tudo pertence aos seus olhos
no esmo de estar se achando
amor, violência, caos
um horizonte, outro escondido
cento e oitenta graus
de mais um dia
esperança ter-lhe traído
o passageiro solitário
curte o cenário
sorriu de ver-se sorrindo
e soube
d'alegria nada lhe ser
pois pro seu ideário
seu sistema
é triste ter como lema
canto de pássaro liberto
do fundo ao cume
ter sua luz morrido
na fé de saber-se vaga-lume
o trem para
sua viagem parou:
torna-se qualquer Zé
artista que o palco sangrou
nada mais lhe é
um passo, outros de chegar
atrás jaz a fantasia:
o pássaro findou se na gravura
o vaga-lume achou o dia
chorou pela vã procura
e soube
da tristeza tanto lhe ser
num mundo de tudo e nada
desertando-o em sua morada
pra motivar-se e renascer
(6/80)
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