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nota de rodapé filosófica.




Será que nosso amor foi igual àquela fruta que apodreceu no 
galho sem que nós a tivéssemos colhido?


***

simplista e trágica historinha de amor



papo bom
em casa
põe som
vaza

dito
resumido
dos fila-bóias

assim era
zé-tapera
nu de glórias

rejeitado
dava de ombros
agalopado

biombo
criava
amiúde
educado


seu caso
emocional
vivia do lado

nem piava
seu rival
era ligado

papo vem
papo vai
no matagal
foi achado

de amor
morreu o tal
de furor
enfartado

neguinha
fuinha 
 fera
dessa paixão
nunca houvera 
desconfiado

'platomaníaco'
no afrodisíaco
era viciado



***













a temporã.







o pó cobre os corpos
cobre o verde desértico
da vegetação teimosa
da planície arenosa e das escarpas
e, ao sopé dos montes
pegadas de pés descalços
de mulheres voltando das fontes
aos seus lares
...
regresso com seus temores
e tristes olhares
sem as cantigas peculiares
de seus santos ajudadores


hoje não tem não
carne-seca nem água no feijão
hoje não sairão banhar-se todas
contemplando às estrelas
em um conto regional de morrerem
e um dia sê-las


hoje tem
a fome circundando os quintais
cantada pela desgraça do violeiro
que fala dos temporais
que fala do rio transbordando
mas nunca por ele navegou


'o pôr-do-sol é um quadro horizontal
maravilhoso demais e, ausente
faria secar a tristeza dessa gente'


aves nômades rumam para o mar
as daqui já foram nativas
...
e tantos animais de costelas salientes
tombam impotentes
e tantos animaisgente
tombam indo e vindo
sedentos da chuva chegar
...


e o barro dos açudes amarelos
e o barro ocre-marrom
e o barro ocre-marrom cobre
cobre de doença, mata a fome
perpassando as tripas da barriga
...
e só a água cristalina
guardada na retina
não faria essa gente ó Deus
ó Deus não faria
essa gente sentir-se tão pobre


o caminhão-pipa não chega
a espera é um alento
para os pais sentinelas
e suas crianças magrelas
que as mães esperam
alheias ao frescor do vento


um relâmpago
esperança
um sorriso fugaz de todos
de todos sentirem a chuva
a lama do pó
do pó na entranha
que molha o pó de lágrimas

***


(scsul, 1998)