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pitaco sobre a saudade.



a saudade tem gosto de pudim de leite
com calda de caramelo

aquando de
 é salina nas salivas 
cheira a fumo de corda do cigarro de palha

range em meus dentes como
a cadeira de balanço de meu bisavô

é uma flor de pedra
que tento flutuar em cima dum barquinho
de papel na enxurrada da chuva

tenho um pedacinho do espelho dela
a saudade
nos escuros por que vago

nele inda me vejo

vasculhando em meu balaio
miniaturas como marcas que se foram
lembretes de quando minha letra era um garrancho
...

ciente que não perdi
o sonho em ser construtor de navios
inexperiente para a perfeição do saber viver
 no reflexo-passo-a-passo-de-meus-passos

coisinhas, sabe,  que me arrancam um sorriso


***1980










descuido.







você, sexy, saindo da academia
eu passando de bicicleta
PQP
maldito poste

(lembrei do poema de Drumond)



****

a arte na arte e pela arte.



roubaram a cabeça da estátua de bronze.
puseram uma bola de futebol no lugar.
e não é que todos visitantes notaram!



***

à paulo leminski



a maioria  detesta 
o nascido pra ser detestado

Rehgge

é água
que tentam podar
com machado

eh eh eh


***



sabes, ou só eu posso responder?






sabes da ossatura
do meu silêncio
do alvor pela fresta da janela
da caravela colorida
em lampejos pictóricos
no posfácio de cada minuto

sabes?

o moinho giramundo
devassa os sonhos
(nas notas duma melodia)
desmancha as teias
(num sopro renovável)
desarruma as sombras
(como espectros mutantes)


sabes do meu escuro
onde vivem vozes antigas
mescladas com meus monólogos
(zumbis mudos a preencherem o espaço)
...

 sabes dos meus novelos da hora
enrolados no pulso


sabes?
sabes?!!

sabes que a lida tece artimanhas
de minha doce palavra
tal fruta enrolada em papel de vento

sabes do som do catavento
e dos umbrais
para a estrada das pedras
do limboso espelho do tempo
?

sabes das minhas privações
das folhas mofadas ao relento
dos frutos entre as folhagens
cortinas dum show
que se aporta em meus olhos
e vaga à terceira margem
de rios invisíveis
?

sabes 
que o amor flutua
e tira os alicerces da casa

sabes 
da água rasa
da brasa
fluente de minhas lágrimas
a amarelarem meu travesseiro
com pedaços de mim
...
dos meus gestos prematuros
do baluarte dos meus braços
até ontem imortais
?

sabes o que me embebece
com tanta futilidade
até  eu esquecer
que apenas viajo no tempo
à procura dum nicho
em que almas risonhas desfrutem
perfiladas nas calçadas
o cortejo de minha parca história



sabes?
que a indecifrável escrita
(vivida)
dói demais
até eu ser um ser
que ninguém jamais concebeu
no baú das ilusões
...
e a epígrafe deste
é minha inconteste
perseverança em  prosseguir
...?

sabes ou não
da vaga premonição
que nos infiltra
à nova atração
de afazeres & pensares
do senso comum
apesar do roteiro plural
apesar de
...
saibas


que só sei de meus limites
e, só, posso apenas responder sobre minha vida nua e crua

o resto vai além das pernoites de meu desassossego
sabes?




***