quando perco
o meu óculos bifocal
sem me lembrar onde o larguei
fico tipo o viciado sem seu jereré
na busca implacável de achá-lo
dos males o menor...
esta situação que amiúde acontece
me permite alguns momentos de reflexão
:
:
como é duro ver tudo embaçado
ver nas letras um borrão
de um título escrito
PAZ
(primeiro atributo zeloso)
em vermelho manchado
um tom de cor pendente
à flor da pele
que esta minha cegueira temporária
dá ao meu intelecto um gole de vazão
cadê meu óculos, caramba!
preciso re-enxergar urgentemente
pra voltar a fazer número
na realidade sem explicação
cadê meu óculos
me pergunto
remexendo as gavetas
perfazendo meus últimos atos
ah
será que o deixei no banheiro
quando me olhava no espelho
com cara de um durão forasteiro
que ia fazer justiça
com a caneta na mão
ciente de que palavras
e só as palavras
são capazes de dar luz a febre mundana
que um dia me cegou
me exilou dentro de mim mesmo
desertando-me do grupo
para achar-me em escura retidão?
cadê meu óculos, caramba!
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